Projeto CVT - Agroecologia_visita_24_06_16 (26)Com o aumento de preço do feijão no mercado local, devido a problemas climáticos, e a declaração da Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) do ano de 2016 como o Ano Internacional das Leguminosas, uma pesquisa desenvolvida no âmbito do Centro Vocacional Tecnológico de Referência em Agroecologia e Produção Orgânica do Acre (CVT Agroecologia) ganha destaque no Instituto Federal do Acre (IFAC).

Iniciado em 2015 com previsão de encerramento para fevereiro de 2017 a pesquisa tem como tema “Projeto Sementes Crioulas tradicionais ou locais”, é coordenada pela profa. Dra. Rosana Cavalcante dos Santos, reitora do IFAC e coordenadora do CVT Agroecologia, e pelo prof. Dr. Vanderley Borges dos Santos, docente da UFAC. O projeto foi aprovado através da Chamada Pública do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) – Edital 40.

Em seu desenvolvimento a pesquisa conta com a participação de bolsistas e parcerias com instituições como a Universidade Federal do Acre (UFAC), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa-AC), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e Associação Sócio Participativa da Amazônia (ACS Amazônia).

A pesquisa tem como objetivo identificar, resgatar, multiplicar e trocar sementes de variedades tradicionais de feijão caupi e feijão comum do Acre. Com a participação de agricultores, foi possível a doação de sementes para a utilização em duas áreas de experimentação localizadas na horta e em terreno localizados no Campus da UFAC. O resultado da pesquisa vai possibilitar a preservação da variabilidade genética dos cultivos tradicionais de feijões crioulos e caupi.

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Projeto CVT - Agroecologia_visita_24_06_16 (7)Para a obtenção de sementes de feijão comum e feijão vigna foram identificadas comunidades de produtores rurais que plantam variedades locais de feijão em suas propriedades por, pelo menos, cinco anos consecutivos nos municípios que abrangem as regiões do Baixo Acre, Alto Acre, Purus, Tarauacá/Envira e Juruá. As sementes foram coletadas diretamente das lavouras por uma equipe do projeto.

Metas – As metas da pesquisa desenvolvida pelo CVT Agroecologia, segundo a profa. Rosana Cavalcante dos Santos, vai além: estão relacionadas à identificação de pelo menos 10 variedades de feijão comum e 10 variedades de feijão caupi; à multiplicação para resgate dessas duas variedades em 20 meses; à implantação de um banco de sementes para conservação ex situ e possibilidade de multiplicação e disponibilização para produtores e futuros programas de melhoramento participativo.

IMG-20160711-WA0019“Pretendemos compartilhar os resultados da pesquisa com o intercâmbio/distribuição de sementes por meio de duas feiras de troca de sementes, para a conservação on farm, em até 20 meses. Tivemos participação nas XI e XII Semanas de Alimentos Orgânicos do Acre, além da publicação do livro feijões crioulos, em 2016”, diz a pesquisadora.

Dentre as principais contribuições científicas, tecnológicas ou de inovação do “Projeto Sementes Crioulas tradicionais ou locais”, destaca a profa. Rosana Cavalcante dos Santos, estão o envio de resumos ao V Congresso Latino Americano de Agroecologia – Argentina, ao Congresso Brasileiro de Agroecologia – Belém; ao Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos e participação do bolsista Valcermyr Teodoro do Nascimento participou, no período de 7 a 10 de junho, do IV Congresso Nacional de Feijão-Caupi, realizado em Sorriso-MT.

Os resultados também estão sendo enviados em forma de artigos para periódicos específicos e darão suporte para desenvolvimento de trabalhos de conclusão de cursos no Instituto Federal do Acre (IFAC), dos cursos de graduação e geração de dissertações de mestrado e/ou doutorado no programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Acre (UFAC).

“Vamos, ainda, sistematizar e socializar os conhecimentos, os métodos e as experiências agroecológicas e de produção orgânica familiar no Acre com instituições parceiras e as famílias de agricultores locais. Com o projeto pretendemos estimular experiências locais de uso e conservação dos recursos genéticos vegetais e animais, especialmente àquelas que envolvam o manejo de raças e variedades locais, tradicionais ou crioulas dos feijões encontrados no Acre”, informa profa. Rosana Cavalcante dos Santos.

Estagiários mostram importância da participação na pesquisa do CVT Agroecologia

A pesquisa tem o apoio de quatro bolsistas: os engenheiros agrônomos Valcermyr Teodoro do Nascimento e Cristina Sá de Lima; o aluno do curso de Engenharia Florestal, Lucas da Silva Monteiro e o aluno do curso de Aquicultura do Campus Avançado Baixada do Sol, Aldo Bandeira da Costa. O aluno Hiuri Negreiros de Albuquerque, do curso de Engenharia Agronômica da UFAC, participa do projeto como voluntário.

O engenheiro agrônomo Valcermyr Teodoro do Nascimento é formado pela Universidade Federal do Acre (UFAC), em 2013. Ele destaca a importância de participar do projeto como engenheiro. “Esse projeto de sementes de feijão crioulo tem uma grande importância pra mim, pois assim, tenho o privilégio de conhecer as variedades de feijão do nosso Estado”.

Projeto CVT - Agroecologia_visita_24_06_16 (41)Valcermyr diz que está apendendo mais sobre o potencial genético desses feijões e sua importância na vida dos produtores. “Tenho o prazer de ajudar alavancar a produção de feijão em nosso Estado, podendo incentivar novamente o produtor a produzi-los. Trabalhar diretamente com pesquisa é muito gratificante, pois de alguma maneira estamos ajudando a melhorar e mudar a vida do homem no campo, levando mais tecnologias e conforto, aumentando a produção agrícola, e consequentemente, mais renda ao produtor”.

Além do mais, destaca Valcermyr Teodoro do Nascimento, a pesquisa visa incentivar o homem do campo a permanecer na zona rural. “Essa pesquisa tem contribuído bastante na minha vida, no sentido de poder adquirir mais conhecimentos técnicos na minha área de atuação. Estou aprendo novas técnicas de produção, plantio, irrigação e manejo. Além de ter o contato direto com o agricultor, que é uma grande experiência, pois assim podemos saber qual a realidade que esse agricultor se encontra, descobrindo seus problemas e, assim, poder ajudá-lo”, conclui.

Pesquisa – A engenheira agrônoma Cristina Sá de Lima, também formada pela UFAC em 2013, demonstra a importância da pesquisa em sua vida profissional e de atuar como bolsista na pesquisa. “Com o ano destinado as leguminosas pela FAO, ter uma pesquisa em desenvolvimento com variedades de feijões comuns e crioulos é de grande importância, pois sabemos que assim podemos apresentar resultados que possam contribuir para resgatar tradições de pequenas produções agrícolas como forma de subsistência e fonte de renda”.

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Cristina Sá destaca que, através da pesquisa foi possível conhecer a diversidade de variedades de feijões cultivadas no Estado. “A pesquisa utiliza o sistema de cultivo tradicional, onde se planta e armazena suas próprias sementes”.

Resultado – Já o bolsista Aldo Bandeira da Costa, do curso de Aquicultura do Campus Avançado Baixada do Sol, destaca que o acelerado crescimento do conhecimento nos últimos anos, já deixou o ensino tradicional baseado na transmissão oral de informações para trás. “Como todos sabemos dentro da sala de aula não é possível transmitir todo conteúdo por conta da carga horária curta. Com a pesquisa de campo é possível buscar conhecimento e de utilizar seus resultados no dia a dia”.

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Com a pesquisa, segundo Aldo Costa, é possível dominar o desconhecido. “Dentro desta perspectiva os projetos de pesquisas vêm se tornando um instrumento valioso pera aprimorar a qualidade desejada na minha formação profissional”.

Privilégio – Lucas da Silva Monteiro, que está no 9º período do curso de Engenharia Florestal da UFAC, diz que participar dessa pesquisa é um privilégio. “Sou muito grato por ter o privilégio de estudar e executar as atividades agroecológicas ao mesmo tempo. É uma oportunidade ímpar, comparando a pesquisa com a realidade, onde nem todos os acadêmicos dos cursos de ciências agrárias têm a mesma oportunidade”.

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Atualmente ele está focado em trabalhos e literaturas sobre adubação orgânica. Ele estuda um método novo que está desenvolvendo com a “adubação viva”. “Ter o contato com agricultores e povos tradicionais, por intermédio da identificação de sítios cultiváveis de sementes orgânicas de espécies de feijões do Juruá, está me dando uma experiência gratificante. Futuramente quero participar de feiras de trocas de sementes, mostrando essa experiência”.

Segundo Lucas adquirir experiências no âmbito científico inclui o bolsista no grupo de pessoas qualificadas e aptas para a pesquisa, abrindo caminho para o seu futuro mestrado. “A experiência que estou adquirindo através do CVT Agroecologia, que é pioneiro em elaborar projetos voltados a agroecologia e conseguir fundos junto ao CNPQ, posso no futuro, em parceria com a UFAC e professores colaboradores, enriquecer o meu currículo e ser qualificado para o mercado de trabalho”.

Voluntário – O aluno do 9º período do curso de Engenharia Agronômica da UFAC, Hiuri Negreiros de Albuquerque, atua na pesquisa como voluntário. Ele diz que esta é uma oportunidade que o acadêmico tem de ter um contato com a realidade de um sistema de produção, envolvendo desde a experimentação até a parte técnica e prática.

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De acordo com Hiuri a pesquisa trará resultados úteis, tanto para a comunidade científica quanto para produtores da região. “Junto com a interação de professores da universidade, engenheiros e outros bolsistas, o conhecimento para a área profissional é aprimorada e é de extrema importância para o nosso futuro profissional”.

Outra área da pesquisa destacada pelo voluntário está relacionada à produção de adubos orgânicos através de compostagem e vermicompostagem, o que contribuiu muito para despertar conhecimento na área da Agroecologia e que tem grande valor para sistemas sustentáveis.

 

 

Multiplicação de sementes de feijões do Acre é objetivo de pesquisa do CVT Agroecologia